segunda-feira, 24 de maio de 2010

Tabul


O trabalho se desenvolve a partir de uma proposta de coletividade, abordando o aspecto das construções artísticas, de como a arte é feita por várias mãos, cada uma com uma vida própria, e todas construindo uma história que ultrapassa os limites do individual, tornando-se um entrelaçamento de narrativas e significações.

O nome do projeto “Tabul” surgiu a partir da discussão provocada pelo próprio objeto fotografado: mesas da sala de gravura do curso de Artes Visuais da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. A arte posta à mesa, lugar onde se comungam saberes e experiências que circundam a construção do conhecimento artístico e a sua produção no Rio Grande do Norte. Tomado como um emblema, ou seja, um símbolo capaz de dotar tantas significações no que diz respeito a esta interação artística, a mesa traz com seus restos imagéticos ocasionais (manchas aleatórias provocadas por pincéis e rolos) o nosso mote poético.

Partindo do ponto de vista de que a obra só se concretiza com o outro, existindo somente a partir do momento em que esse interfere com o seu olhar e significação, a obra coletiva sozinha já contém toda significação, toda existência, pois ela já passa pelos outros na sua feitura, e surge como um organismo vivo, reminiscente de vidas, histórias e simbolismos diferentes a cada pincelada.

Aqui, trata-se, por tanto, de fazer obra de arte o próprio fazer artístico, a própria construção histórica dos artistas, a humanização e o comunismo em que se dá e se propõe a arte. A obra fala sobre o todos em um, sobre as individualidades somadas num todo rico e harmônico, tal como se percebe no zeitgeist contemporâneo, onde a divisão imbricada tece o todo harmônico societal, que mesmo fragmentado é uníssono.

Tomando como suporte a sociologia durkheiminiana, podemos dizer que a obra constituir-se-ia um fato social, por se tratar de um produto da consciência coletiva (termo retirado da psicologia analítica de Jung) expressa em uma manifestação observável, e que esta seria repleta de representações, interesses e valores individuais e coletivos, possuindo, no entanto, uma autonomia em relação aos indivíduos, por perpassar as consciências individuais que os originaram, tornando-se um todo orgânico vivo, independente desses.

A partir de Vigotsky, tomamos o que ele afirma sobre o homem, que através do trabalho transforma o meio produzindo cultura, e que os instrumentos que utiliza para isso acabam transformando o seu próprio comportamento. Sendo assim, a relação entre o homem e o meio é sempre mediada por produtos culturais humanos, como instrumento e signo, e pelo outro.

Tem-se suporte fotográfico digital tratado, feitas as nossas próprias intervenções através do meio informático, sendo esta a nova proposta, a de interação nossa com os “restos” dos produtos artísticos extraídos do ambiente de uma sala de arte da universidade federal, assim, colocando o nosso olhar e interação com a história dos artistas contemporâneos que passaram por aquele meio e compartilharam a construção das suas ações artísticas.



Trabalho coletivo com Marjorie Simões para o XIII Salão de Artes Visuais da cidade de Natal- 2010, Capitania das Artes

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